sábado, 5 de abril de 2014

"A crônica de uma decisão", por Fábio Campos.


Jornalista Fábio Campos.
 
"Agora, o governador e seu grupo político vão partir para a disputa. Deverá haver concorrência. O cenário da semana, que pode mudar, indica que a principal delas será oriunda de um racha na base partidária que banca Cid desde 2006".

Sexta-feira foi o dia do “fico”. Fica Cid Gomes, o governador. Fica Domingos Filho, o vice-governador. Acabou por se confirmar o plano inicial nutrido por Cid durante quase todo o segundo mandato. Porém, não foi esse o plano que a ele se impôs nos últimos dias.

Com a candidatura de Eunício Oliveira em campo, o governador passou a considerar necessário eleger o irmão Ciro senador. Para isso, bastava Cid abdicar do Governo para deixar Ciro elegível. Simples, não? Sim, mas havia algo a resolver. No caso, quem assumiria o Governo com a saída de Cid.

Ora, caberia ao vice assumir a tarefa. Afinal, Domingos Filho havia sido escolhido pelo próprio Cid para a vice. Antes, como deputado e como presidente da Assembleia, deu todas as demonstrações de apreço e fidelidade ao governador.

Ainda no PMDB, Domingos dizia que não era “peemedebista”, mas sim “cidista”. Depois, saiu da sigla para se juntar ao Pros, o asilo político de Cid e companhia. No Governo, assumiu tarefas importantes e foi um vice de comportamento exemplar. Muito discreto, e sem jamais causar desconfortos ao titular.

Mas, Domingos é de Tauá, no árido Sertão dos Inhamuns. Não é de Sobral e nem da Região Norte. Sua tradição política familiar é outra. Portanto, por mais fiel e dedicado que tenha sido, não era homem da absoluta confiança do grupo do governador.


Na reunião da tarde de quinta-feira, quando perguntado, Domingos disse que sua intenção era assumir o Governo caso Cid decidisse sair. Declarou que se assim fosse iria trabalhar para viabilizar-se como candidato ao Governo. Também disse que caso não conseguisse a indicação, apoiaria com vigor o nome do partido.

No entanto, não eram esses os planos do governador. O projeto era o seguinte: Cid sai. Domingos também sai. Assim, o governo cairia no colo de Zezinho Albuquerque, o presidente da Assembleia amigo-irmão de Cid e Ciro.

Domingos bateu pé. Sugeriram-lhe outras possibilidades. Um Ministério, por exemplo. Dilma não se oporia. Que tal uma vaga vitalícia em um tribunal de contas? Ou um mandato parlamentar? O vice manteve-se firme.

Diante da legítima resistência, na noite de quinta-feira Ciro formulou um “aventureiro” que a crônica política leu como um injusto ataque dirigido a Domingos. No dia seguinte, 

Cid enterra o plano de renunciar e declara que levará o mandato até o fim.

Trocando em miúdos, o projeto é entregar o poder a um membro do grupo. A ninguém mais.

OS SONHOS DE EUNÍCIO.

Agora, o governador e seu grupo político vão partir para a disputa. Deverá haver concorrência. O cenário da semana, que pode mudar, indica que a principal delas será oriunda de um racha na base partidária que banca Cid desde 2006. Eunício Oliveira (PMDB) afirma e reafirma a candidatura ao Governo.

Cid e Eunício conversaram na semana passada. Pouco se sabe a respeito do que trataram, mas é muito provável que as coisas tenham ficado claras para um e para outro. A saber: Eunício é candidato. Cid não o apoiará.

Dois dias depois da reunião, o senador declara ao O POVO que “é fácil conversar com outros partidos”. Certamente é isso que está fazendo. Eunício conversa com o PSDB e com o PR. Mantém diálogo com o PT, com o PCdoB e outros menos significativos.

Considerando que o PT fica com o Pros, em sua cabeça há uma chapa dos sonhos. Eunício para o Governo e Inácio Arruda (PCdoB) para a vice. Sim, o Inácio que será preterido pelos parceiros Pros e PT na disputa de senador pode ter lugar na chapa do outro parceiro que rompe a aliança.

O sonho de Eunício se completará se conseguir atrair o PSDB para o seu palanque. Mais que isso. O objetivo é convencer Tasso Jereissati a disputar o Senado.

Outro trunfo do senador: mesmo candidato ao Governo manterá ativo o mandato de senador. Ou seja, sempre terá o PT numa posição defensiva diante de pedidos de CPIs e da ação da oposição. Assim, poderá manter Lula e Dilma bem longe da campanha do Ceará.

PMDB S.A.

Empresário com trajetória de sucesso, Eunício fez do PMDB cearense uma espécie de filial de seus negócios. Atentem para um detalhe: todas as últimas manifestações públicas oriundas do comando do PMDB, quando não parte de Eunício, partem de seus sócios nos negócios. No caso, o vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena, e o também empresário Carlos Gualter. O PMDB virou uma célula empresarial. Quem também ganha espaço por lá é o empresário Mário Feitosa. Gente como o deputado Federal Mauro Benevides não tem espaço para se movimentar.

ERRO CAPITAL.

Uma ironia do destino político: a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) é tratada como inimiga figadal pelos Ferreira Gomes. O grupo do governador fez um enorme esforço para derrotá-la em Fortaleza. Para isso, contaram com a aliança e o apoio do PMDB de Eunício Oliveira. O senador só acumulou mais forças. Tanta que agora é apontado como o principal obstáculo para o projeto do governador Cid de fazer um sucessor de sua confiança. Já teve interlocutor dizendo que foi um erro político tentar massacrar a petista. Cid até que tentou abrir diálogo com a ex-prefeita após as eleições de 2012. Magoada, Luizianne não abriu o flanco.

UMA APOSTA.

A surpresa da sexta-feira foi a desincompatibilização de Izolda Cela. Filiada ao PT, comandou a área de educação durante os dois mandatos de Cid Gomes. É no setor que está o maior sucesso do Governo. Todos os números da área são positivos. A política educacional do Governo é respeitada até pelos petistas que atuam no setor, como o deputado federal Artur Bruno. O principal projeto de Cid na Educação foi copiado pelo Governo Federal. E Izolda é de Sobral. Não duvidemos se for ela a escolhida para disputar o Governo.

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