quinta-feira, 3 de junho de 2010

NILDA PEIXOTO, VOVÓ ROCK "N" ROLL.

Mais que equipamentos públicos, os teatros de Icó e Sobral são considerados, nestas cidades, redutos acolhedores. Não faltam histórias de vida que passam por ali, pelo palco, por trás das cortinas, no lugar da plateia ou do lado de fora, na calçada. Em Icó, o Caderno 3 ouviu histórias de atores ocasionais, dos tempos do famoso Walfrido Monteiro, amante do teatro e agitador da cena local. Sobral apresentou Nilse Sanford, que conheceu ali o amor de sua vida, e o casal Raimunda e Chaguinha, que fizeram do São João sua morada mais querida.

Antes de chegar aos 20 anos, Nilda Peixoto, hoje com 76 anos, subiu ao palco do Teatro da Ribeira dos Icós, integrando a trupe improvisada de Walfrido Monteiro, advogado que mais tarde fez carreira na política, chegando a ser prefeito da cidade e deputado estadual. "A peça era ´Essa mulher é minha´, sobre um homem que se apaixonava por uma mulher, mas os pais dela não queriam o namoro. Eu fazia uma vó valente dela. Era só sobre essas besteiras do povo antigo, que não aceitava nada", conta Nilda, crítica ácida dos costumes.

"Eu só queria ser novinha hoje, pra matar o desejo de fazer o que queria naquela época. Antigamente, você não podia fazer anda. Se desse um beijo no namorado, no meio da rua, você ficava falada na cidade".

Na lembrança de Nilda Peixoto, o grande responsável pela agitação teatral da cidade era "Zé" Walfrido. Era na casa dele, então um pouco mais velho que Nilda, que o grupo de amigos ensaiava. "O ensaio era de noite, mas só tinha luz até 22 horas", diz. "Muitos dos que participaram dessas peças já morreram. Outros estão vivos, como a Mônica, que é mãe do (deputado) Domingos Filho. Mas naquela época não tinha muita coisa não, era tudo muito pobre. A gente fazia mesmo porque gostava. Usava roupa do povo antigo como figurino", esmiúça.

"Já te contei de quando o rock ´n ´roll chegou aqui no Icó?", surpreende. Quando o ritmo sacolejante chegou, pelos idos de 1955, Nilda topou dançar numa apresentação no foyer, ao som de uma vitrola. "Só que era escondido da família. Quando botei o pé na sala, o primeiro que vi foi um irmão meu. A cagada já "tava feita e eu dancei do mesmo jeito".

REPORTAGEM DO DIÁRIO DO NORDESTE.

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