Em homenagem as 216 vítimas do "Cólera Morbus", será inaugurado nesta quinta-feira, 07 de novembro, o "Memorial do Cólera de Tauá", situado no Bairro Alto Nelândia. O arrojado projeto arquitetônico que compõe a capela, lápides dos túmulos dos que morreram e outra obra de arte compõem esse cenário: Quatro cruzes que se entrelaçam formando uma, como se estivessem abraçadas, agradecendo a Deus, esse momento de reconhecimento e de gratidão do povo tauaense, que nos idos de 1862/1864 vitimou o Vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Pe. Frutuoso Ribeiro Dias, natural de Icó-CE, o Pe. João Felipe Pereira natural da Serra dos Martins/RN e o auxiliar do padre Joaquim da Silveira sepultados no local do belo Memorial que será entregue a população em breve, pela Prefeitura Municipal de Tauá, no Bairro Alto Nelândia.
Com a obra, a história dessa epidemia ficará gravada definitivamente na memória de cada cidadão tauaense, um preito de gratidão e reconhecimento aos que tombaram vítimas daquela epidemia, que na época provocou pânico na população devido a total falta de meios para tratamento adequado, narrado no artigo do pesquisador Joaquim de Castro Feitosa em anexo.
Vale lembrar, que o memorial a ser entregue, erguido no local onde foram sepultadas as vítimas dessa tragédia em Tauá, foi bandeira de luta do Pe. Maurízio Cremaschi (Pároco), Joaquim de Castro Feitosa, Maria Dolores de Andrade Feitosa entre outros.
O Projeto foi elaborado na segunda gestão da Prefeita Patrícia Aguiar, que conseguiu os recursos para a construção da obra, que teve continuidade na gestão Odilon Aguiar e foi concluída neste terceiro mandato. “É um monumento que resgata a memória de uma passagem triste e histórica que o município de Tauá atravessou no século XVIII”, disse a Prefeita, informando que o Vice-governador Domingos Filho estará presente á solenidade,
O historiador Joaquim de Castro Feitosa(in memória) fez um levantamento e escreveu um Artiro sobre o Cemitério do Cólera em Tauá:
O Cemitério do Cólera em Tauá.
Joaquim de Castro Feitosa.
O Cólera Morbus, doença muito contagiosa e de caráter epidêmico, graçou no Ceará nos anos de 1862/ 1864. As mortes pelo ataque do mal chegaram a 12.861 pessoas.
A região dos Inhamuns não escapou da sanha do vibrião colérico que atingiu o município de Tauá no ano de 1862, cuja população era de 14.060 habitantes. Foram infectadas 510 pessoas, das quais morreram duzentas e dezesseis(216).
Em alguns dias os mortos chegaram a mais de 10 provocando um verdadeiro pânico na população pela virulência da doença e pela falta de meios para um tratamento adequado dos doentes.
Segundo pesquisa que fizemos em Tauá, constatei a existência dos escombros do "Cemitério do Cólera", situado a oeste da cidade, logo depois da lagoa da Várzea. O local dista 400 metros do campo santo atual, onde são sepultados os mortos de Tauá.
A área do cemitério do cólera é de cerca de um hectare. Para sua utilização ele foi dividido em dois planos: a) para mortes ilustres que foram sepultados em túmulos (2) de bom acabamento e b) no segundo plano existe uma "vala comum" para atender a contingência de vários mortos por dia, cujos corpos necessitavam fossem sepultados imediatamente para evitar maiores infestações na população.
A vala comum tem aproximadamente 100 metros quadrados. Após sua utilização ela foi fechada na parte superior por um piso de tijolos de ladrilho, com 35 cm de cumprido X 17 cm de largura e 5 cm de espessura. O tijolo foi bem feito e foge ao tipo comum. Alguns tijolos foram retirados, mas ainda existe uma área ladrilhada, coberta de terra e vegetação.
A "fama da vizinhança" mantida através dos tempos, nos dá a informação de que no primeiro plano do cemitério haviam sido sepultados dois padres. Na pesquisa feita in loco encontrei dois mausoléus: um em bom estado de conservação e o outro, com o corpo principal tombado. Realmente de quem seriam os dois túmulos?
Para resolver tal indagação, nos valemos do Livro de Tombo da Matriz de Tauá, Nossa Senhora do Rosário, que nos foi entregue para busca, pelo Pe. Hélio Pontes, vigário local.
Na parte referente a Documento Histórico, encontrei às folhas 57 do dito Livro os seguintes assentamentos:
- Vigário desta Paróquia
- 1.837-1.849 Pe. Frutuoso Ribeiro Dias, natural de Icó, Ceará.
- 1.849-1.862 Pe. João Felipe Pereira, natural da Serra dos Martins, Rio Grande do Norte, Sepultado aqui.
1.849-1.862 Joaquim da Silveira, auxiliar do padre, Sepultado aqui."
Pela informação transmitida de geração a geração, dando conta de que haviam sido sepultados dois padres no Cemitério do Cólera, encontrei as seguintes evidências: a) coincidência da data da morte do Padre, 1862, com o ano do Cólera em Tauá, onde foram vitimadas 216 pessoas; b) pela existência de dois túmulos no aludido cemitério, e c) referência no Livro de Tombo dizendo que o Padre e seu auxiliar foram sepultados aqui. Concluímos: o Pe. João; Felipe Pereira e seu auxiliar Joaquim da Silveira, morreram de cólera e foram sepultados no cemitério acima referido.
O padre e seu sacristão, na luta contra o cólera, levavam aos doentes, suas palavras de fé, orientações no tratamento do mal e a extrema-unção aos moribundos.
No exercício de suas atividades sacerdotais eles chegaram a sacrificar suas vidas, Morreram deixando-nos um forte exemplo de amor ao próximo e de coragem no cumprimento do dever.
Num preito de reconhecimento e gratidão pela labuta ingente do sacristão e do padre, no trato com os coléricos, foram construídos dois túmulos para abrigar com dignidade seus restos mortais.
A incúria de nossas autoridades deixaram que o tempo e a insensatez humana destruíssem os dois monumentos.
É preciso reparar o descaso, fazendo construir com urgência dois túmulos para abrigar dois homens de fé.
O Dr. João da Luz, Prefeito Municipal, autorizou a construção de duas sepulturas. Aguardemos.
Artigo publicado pelo Jornal Folha dos Inhamuns - Ano XIV , Tauá - Dezembro 1997 - pág. 12
Colaboração: Jorge de Moura
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