Sob a sombra de um frondoso juazeiro, agricultores participam do Encontro de Guardadores de Experiências de Chuva e de Sementes Crioulas, no sítio Aroeira, em Guassussê, zona rural de Orós, na região Centro-Sul do Ceará, na manhã desta segunda-feira, 6.
O evento é anual, realizado a cada dia 6 de janeiro, quando os católicos comemoram Dia de Reis. Os agricultores fazem relatos de suas observações sobre a expectativa das chuvas para este ano no sertão cearense.
O agricultor, José Flávio, 55 anos, morador da Vila Guassussê, em Orós, observa o vento aracati, vindo litoral, que costuma correr sobre o Sertão entre os meses de setembro a dezembro, amenizando o calor. “De janeiro a março vai ser fraco, mas em abril e maio teremos mais chuva, e acho que vai ser um inverno de pouca chuva”, avalia.
Morador da zona rural de Icó, José Santana, disse que a mudança climática em curso está influenciando as observações da natureza. “Muitas coisas vem mudando”, pontuou. “Observo que o vento aracati está irregular. Acho que o inverno não será tão bom como muita gente espera”, acredita.
Francisco Víctor, agricultor de Icó, no entanto, está otimista. “Estou confiante e neste ano os açudes vão receber muita água, não para sangrar, mas vai ser bom”, afirmou.
Quem também apresenta um forte otimismo acerca da quadra chuvosa (fevereiro a maio) que se aproxima é Maria de Fátima Lima, 65 anos, aposentada como trabalhadora rural, observou a barra (momento do nascimento do sol) no dia de Natal. “Foi bonita, havia nuvens, o céu não estava limpo e acho que vem muita chuva neste ano”, prevê.
José Ventura Saraiva, 56 anos, agricultor da localidade de Caldas, zona rural de Barbalha, no Cariri, cearense, disse que as experiências feitas no dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, e no dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição (8 de dezembro) foram favoráveis. “O tempo estava nublado como hoje, que é Dia de Reis”, afirmou. “O vento estava descendo da serra (Chapada do Araripe) e é sinal de inverno bom, de boa safra. Os açudes vão pegar água”.
Avaliação
Hélder Cortez, diretor de Operações do Interior da Cagece, que participa a cada ano dos encontros dos chamados ‘profetas da chuva’ nas cidades de Tabuleiro do Norte, Tauá, Orós e Quixadá disse que até o momento a maioria está se posicionando favorável a um período de boas chuvas. “Tomara, estamos precisando”, disse. “Após o encontro de Quixadá, que é o último, vou fazer um levantamento sobre as previsões”.
Os açudes estão secos e Cortez disse que seria muito importante a ocorrência de chuvas neste mês de janeiro, período de pré-estação, para recarga dos reservatórios. Ele destacou a manutenção das observações e a transferência dessas experiências para a geração atual.
O idealizador do encontro em Guassussê, Orós, músico, José Vicente, reafirmou o compromisso com o evento. “O nosso objetivo é valorizar a cultura sertaneja, preservar essa história”, pontuou. “Aqui não comparamos observações de anos anteriores, se houve acerto ou erro”.
Após a roda de conversa, há música e um almoço comunitário, na casa do sítio que o artista José Vicente mantém como espaço de preservação da natureza.
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