O agricultor Expedito João Xavier já é mais contido. “A água aqui vai descer para o Castanhão, para abastecer Fortaleza”, comenta. Mesmo assim, a passagem do São Francisco por suas terras é benéfica. “Tem época que aqui a seca é grande. Então, acredito que vai descer muito peixe. Falam que são mais de três metros de água de lá para cá. Com muita gente precisando, isso chegou e a gente fica de braços abertos”, completa.
Ampliação
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o volume liberado para o CAC é de 10m³/s. No entanto, em campo, será avaliado a capacidade de ampliar para 12 m³/s. A decisão de liberar a água neste mês de março foi motivada, justamente, para minimizar a perda de água durante o percurso. “As calhas dos rios estão bem úmidas e com algum fluxo natural, contribuindo para diminuir as perdas por infiltração, evaporação e por retiradas. Ninguém irriga na chuva. Deste modo, o tempo de viagem da água será menor que seria no segundo semestre, com leitos dos rios secos”, explicou o secretário de Recursos Hídricos do Estado, Francisco Teixeira.
Mais à frente, o pescador Francisco José da Silva, o Titico, morador do sítio Araçá, em Aurora, se surpreendeu com o volume que corre pelo rio Salgado. Ao longo de seus 79 anos de vida, o afluente foi sua principal fonte de renda, a partir da captura e venda de peixes como piau e curimatã. Nos últimos anos, com as chuvas mais escassas, a atividade foi se enfraquecendo e, por isso, ver o Velho Chico passando na frente da sua casa o emociona. “Nem imaginava. Já estou com uma idade tão alta, quase nos 80, e vê assim, é muito bonito”, confessa.
Em época de cheia, a “fartura” é tão grande que chegava a vender peixes em Missão Velha, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte “e já voltava de lá com minha feira”, lembra Titico. “E não parava. Se tivesse peixe, vendia. Era tanto, que terminava dando ao povo”, completa. Com o São Francisco, imagina essa riqueza retornando e também melhorando as condições dos agricultores. “Só se o povo não tiver coragem de trabalhar. Vai melhorar para todo mundo. Em beira de rio, que a terra é úmida, tudo que planta dá. Melhor do que limpar roça cheia de toco. O que vale é ter inteligência e correr para aquilo ali”, acredita o pescador.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) tem como atendimento prioritário o abastecimento humano de aproximadamente 400 municípios, nos estados do Ceará, de Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. A obra, complementarmente, atenderá as comunidades rurais que estão distribuídas ao longo dos eixos. As águas do São Francisco “funcionarão como uma fonte hídrica permanente para o uso preponderante da população, que é o abastecimento humano, urbano e complementarmente rural”, completou a SRH. Como exemplo, citou o projeto Malha D’água, que criará quatro sistemas partindo do canal do CAC com adutores que levarão a água a dezenas de municípios, distritos e as comunidades rurais.
Monitoramento
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) está monitorando, diariamente, o percurso do recurso hídrico pelo fluxo natural dos rios até a chegada no açude Castanhão. Um sistema criado a partir de seções poderão acompanhar se há perda de volume durante o trajeto, seja por infiltração, evaporação ou retirada.
Ao todo, o monitoramento acontece em 14 seções instaladas ao longo dos de 347,5 quilômetros de distância, desde a comporta na barragem de Jati até o açude Castanhão. Especificamente do desemboque do eixo emergencial, que liberou a água ao Riacho Seco, até o maior reservatório do Estado, são 294,1 quilômetros de trajeto. Na última atualização, as águas do São Francisco alcançaram a seção de Cruzeirinho, em Icó, que fica a 211,2 quilômetros da liberação do Riacho Seco.
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