FALTA-NOS ÁGUA
Nos tempos do Segundo Reinado, conta-se, o Conde D’Eu tinha como um de seus rendimentos o aluguel de cortiços para os miseráveis do Rio de Janeiro. Era, certamente, o “Minha Casa, Minha Vida” daqueles tempos.
Caiu a Monarquia, implanta-se a República, sob o lema da Igualdade e da Liberdade, ainda inspirada dos ideais iluministas da Revolução Francesa, dosada pelo Positivismo.
Os tempos passaram, aliás, um século e vinte e quatro anos, e essa mesma República, ainda patina em busca de uma democracia plena.
Aqui e ali parece lampejar alguma aurora da democracia, mas logo volta a mostrar a sua face, seu mal de raiz de autoritarismo, como foi fundada por um golpe de Estado, naquele distante 1889. Vez ou outra surgem líderes salvadores, que logo se lambuzam no mar do patrimonialismo - que é essa promiscuidade na não distinção do que é público e do que é privado – que na atualidade chama-se de corrupção, e novamente a nação desacredita em políticos probos.
A falta de sintonia das esferas de governo com o resto da sociedade civil mostra-se a cada dia mais insultuosa. Não bastassem as dissintonias diversas, as ilhas da fantasia de direitos, privilégios e prerrogativas, passa-se ao total desrespeito aos demais cidadãos. Parece que de fato o poder público brasileiro sente o prazer de insultar a inteligência do povo brasileiro.
Prova está com a questão da Seca no Nordeste. Após anos de razoáveis invernos, com boas chuvas, faltou-nos um José, que anunciasse ao Faraó que era necessário acumular água para o semiárido, que a transposição do Rio São Francisco, ecologicamente equivocada, poderia, se concluída ter evitado o desastre. O Faraó não agiu. Os Faraós ficaram e ficam na retórica, na disputa do poder pelo poder e o gado – aquele gado magro – que o Faraó viu em pesadelo, apresentado pelos cientistas, o José dos tempos atuais, morre aos milhares, num revés da economia nordestina, que parecia andar para frente um pouquinho.
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