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Fabrício Moreira |
Resolvi guardar o sábado para organizar o livro de "Causos - Os Puros e Iluminados da Ribeira do Salgado", já em fase de lançamento, porém, antes dei uma circulada nas ruas Largas de Icó, e, mais do que nunca, fazendo um calor de derreter pedra; quiçá, que seja prenúncio de chuva para logo mais, já que essa seca que graça no semiárido nordestino, já não é tão nossa exclusiva, que o diga a antiga "Terra da Garoa".
Dr. Gilson, nome dado por seu pai Chico Moreira, desde novinho, lhe escrevo sem a preocupação de formas e padrões. Aliás, hoje é sábado, aleluia!
Pois bem, procurei no Mercado Público, próximo ao tradicional "Pau de Jacu", o profeta e sertanejo Otacílio Holanda, que em sua pesquisa de astros e dos cânticos das gias, continua dizendo que terá chuva, mas "nuns cantos sim, noutros não".
Encontrei, também, o poeta Moacir Brasil, que recentemente, encantou a todos os icoenses e visitantes com mais uma cantoria na cidade.
Insultado por Nilda Peixoto, nossa prima, se Brasil tinha ganho muito dinheiro na festança, zangado e sem arrodeios, "mandou que ela fizesse uma festa também e apure os trocados da poesia, se possível, ainda na bacia dos cantadores".
Damonzinho Magalhães - presente no encontro, diz que ele acendeu seu velho churuto, deu as costas, com um Adeus Bolívia! Moacir é Moacir, ora bolas!
E Nilda, sem perder a viagem, foi logo saindo pra jogar Gamão com nosso primo Jorge Florzinha, chamando-o de velho bruto.
De longe, do Mirante dos Magalhães, avistei Ronaldo, responsável segundo os papudos que visitam seu simpático bar, pela plantação dos tricentenários tamarindeiros da "Rua das Almas".
Informado por nosso primo Bebeto Peixoto, que Ronaldo seria o último ex-escravo vivo em Icó, a TV-Diário do Ceará, foi direto entrevistá-lo.
Com a gentileza a flor da pena, logo que tomou notícia da pauta da entrevista, Ronaldo expulsou de seu comércio os jornalistas, daquele jeito: "Me esqueçam e vão todos vocês para as Putas que os parius".
Tá certo Ronaldo, afinal, ele não plantou os nossos tamarindeiros de 300 anos, apenas "aguou" para hoje termos essas sombras, correndo dos sóis de Icó.
Mas hoje é sábado e o dia passa devagar. Quase parando. Os visitantes da "Feira do Rôlo" de todos os domingos já estão chegando. Tem que marcar o território. Fazer a lista dos objetos a ser(em) expostos e, com certeza, não são frutos de nenhuma traquinagem alheia. Pense em muita conversa boa colhida naquele local.
Avistei também, na rua grande, Padre José Augusto, sentando na calçada, já falou de todo mundo hoje, iniciando pelos políticos e terminando em Carlinhos de Rosária. Diz que Carlinhos, bom homem, reza demais.
"Pra que essa besteira de passar o dia rezando", diz Padre José Augusto, que recebeu cartão vermelho da Igreja. E ele não fez nada demais, apenas chamou o Bispo de abestado e sabidão. Ora, Tiririca diz isso de todo povo brasileiro, todos os dias, e ainda foi reeleito com 1 milhão de votos à Deputado Federal.
Resolvi, após esse passeio matinal, retornar pra casa, aprontar o café, aperfeiçoar as histórias, e regozijar das memórias vivas de nosso povo.
Até breve!