O jornalista Paulo Celso Pereira, do O Globo, fez uma excelente análise das circunstâncias políticas que cercam Ciro Gomes. Veja alguns trechos:
“ Terceiro colocado no primeiro turno, com 13,3 milhões de votos, Ciro Gomes abandonou Fernando Haddad à própria sorte e decidiu embarcar para a Europa. Não é nada perto do que o PT fez com ele antes das eleições começarem, mas ainda assim é uma punhalada profunda na estratégia traçada pelo ex-presidente Lula”.
“…Na virada deste ano, Ciro havia se tornado a principal força eleitoral da esquerda depois de Lula. No entanto, após a condenação do ex-presidente em segunda instância, que o tornava inelegível, o petista optou por fazer valer a hegemonia de seu partido. Dono de um quarto do eleitorado brasileiro, Lula apostava que colocaria qualquer nome no segundo turno. A história provou que tinha razão”.
“Optou, então, por lançar Fernando Haddad, de seu próprio partido, para seguir controlando a esquerda sem que ninguém lhe fizesse sombra. Em seguida, deu início à estratégia de moer aliados. Primeiro, obrigou o PCdoB a entrar na coligação petista, ameaçando atuar para que os comunistas não ultrapassassem a cláusula de barreira — o que acabou ocorrendo. Em seguida, inviabilizou a aliança do PSB com Ciro, avisando que lançaria Marília Arraes na disputa contra o governador socialista de Pernambuco, Paulo Câmara, caso o partido apoiasse o pedetista. Assim, Ciro acabou relegado a uma estreita aliança com o Avante, que esvaziou seu tempo de TV”.
Há um mês, após qualificar a candidatura de Haddad como “fraudulenta”, Ciro cravou: “isso vai dar merda, não tenho a menor dúvida. (…) A gente não pode chamar a nação para dançar na beira do abismo”. Lula chamou. Fora do segundo turno, Ciro lavou as mãos.
Desde a morte de Eduardo Campos, em 2014, ninguém na esquerda ousava confrontar os desígnios de Lula. Ciro ousou. E, mesmo perdendo, sai maior do que entrou na disputa. O pedetista é hoje mais parecido com a Marina Silva de 2010, que surpreendeu o país como terceira via à polarização PT-PSDB, do que a de 2014, que acabou derrotada após liderar a corrida.
O ex-governador do Ceará conseguiu atravessar a campanha sem fazer com que sua incontinência verbal provocasse um suicídio político, como fizera em 2002…
(do Focus)
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