sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

História de fim de ano!

A imagem pode conter: texto que diz "TJCE"

Você não conhece mais quem julga seu processo. Agora é tudo digital. O doutor não vai mais à vara. Sua excelência vareia agora de casa ou de onde estiver. Um assessor arruma a mesa, recebe os demandistas, dá desculpas, ensina o que fazer, tudo dentro das normas que criaram para que as pessoas não incomodem mais a autoridade.

No meu tempo de menino a autoridade era conhecida, como meu vizinho dr. Walter.

Sempre alinhado em linho branco imaculado e mãos limpas, imaculadas. E o Aldeir. E a Gisela. Quanta intimidade. É, não. É pra dizer que juiz era gente conhecida, andava no meio das pessoas, ouvia as pessoas, conversava com as pessoas. Dr. Geraldim levou até facada no rosto pela generosidade de ouvir bandido perigoso sem algemas. Não por valentia, mas por humanidade. Um juiz.

Os autos não se julgavam pela internet, como também pela audiência, pelos sentimentos, pelas histórias de cada um.

As partes eram ouvidas olho no olho, quer dizer, ouvido a ouvido. Só que ninguém sabe mais quem é quem ou o que. Os tribunais tocam trombetas dizendo que agora é tudo eletrônico, até assinatura. É perder tempo falando de como era.

Ninguém vê mais um pedaço de papel. A tela do computador é a folha de papel em branco onde alguém, correta ou incorretamente diz pra sua excelência que é assim ou assado e manda dizer pras partes em demanda, que um é réu o outro é só o outro.

Histórias de fim de ano II

Martônio Vasconcelos, brilhante como estudante, brilhante como advogado, brilhante como desembargador, é uma das peças mais iluminadas numa roda de conversa entre amigos.

Contador nato de histórias, tem na memória fatos, como fotografias, de passagens de seu juizado pelos sertões.

Um dia, conta ele, na sexta-feira, fechado o expediente, deixou a mesa arrumada, processos despachados, em “dia” e nenhuma pendência. Um “advogado” procurou o juiz Martônio Vasconcelos que já havia saído.

O meirinho encerrando o expediente, também, perguntado, disse que o juiz deveria estar no bar do fulano de tal. Lá se foi o advogado.

Apresentou-se, tinha uma demanda de busca e apreensão. Meritíssimo leu, e enquanto lia convidou o doutor a sentar. Muito cioso, o advogado perfilou-se declinando do uisquinho generoso da autoridade:

- Doutor, não bebo quando trabalho. Martônio fecha o processo, entrega de volta pro representante da Ordem e encerra a sessão: -

"Volte segunda-feira. Não trabalho quando bebo".

(Por Macário Batista, jornalista).

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