Tive um enorme pesadelo nesta noite. Sonhei que tinha sido eleito Prefeito do Icó. Eleito com uma coligação de tantos partidos de ocasião, que é impossível imaginar em sã consciência que a política-partidária pode ser tão podre, tão degenerada. Estavam coligados partidos da neo-esquerda, da “porra-louca” da esquerda, ligados às igrejas, católicas e “evangélicas”, gente com ideologia e sem ela, era um verdadeiro “hades” e pra juntar essa gente todo o eleito” tinha que ter um jogo de cintura que chegava à verdadeira cafajestice, a uma total falta de caráter, padecer de uma despersonalização impressionante. Valha-me meu Senhor do Bonfim!
Não era sonho, era pesadelo! No meio daquela tortura mental, me passavam todos os rostos das pessoas: miseráveis, pobres, sofridas, famintas, de mãos calejadas, feições envelhecidas, queimadas pelo sol quente da caatinga no tempo de verão, com grandes olhos cheios de esperança e que as tive de enganar, iludir, contar-lhes coisas como quem as conta a crianças inocentes, ingênuas... Olhavam para mim como se eu fosse uma espécie de deus ou semi-deus. Senti medo, pavor, ao mesmo tempo um misto de misericórdia.
Havia mentido para meu povo, prometido coisas que estavam acima do meu poder. Havia prometido casas, empregos, trabalho, fartura, o pior tinha prometido esperança em dias melhores. Talvez essa foi à única verdade que havia prometido: Esperança. A Esperança é algo subjetivo e não se pode – por mais cruel que seja – arrancar das pessoas.
Na minha mente passavam um a um os rostos dos eleitores. Vi o povo de Icozinho, Pedrinhas, Malhada Vermelha, o pessoal das Três Bodegas, colonos, agricultores, vaqueiros, vi uma a uma as varredeiras de rua, as lavadeiras de roupa, as empregadas domésticas, os “chapeados”, os desempregados, os pedintes, os mendigos, os funcionários públicos, os comerciantes, os ambulantes, os feirantes, os camelôs, os felizes, os infelizes, os lunaticos, os alegres, os tristes... o povo da cidade, com suas carências tão grandes e os da zona rural, com carências maiores ainda, vi os doentes em busca de atenção, os parentes dos mortos em busca de caixão..... Vi o tempo da cruel seca e da enchente, invadindo as casas, desalojando as pessoas. Meu Deus, isso é o Apocalipse!
Ah, vi o Icó dos terríveis crimes hediondos: de facada, de tiro, de paulada, nos silêncios dos lares ou a céu aberto. Vi o Icó, homofóbico, racista, etnocentrista. Vi o antigo sangue correndo pelas ruas de pedra, ou na terra nua, parecia semente da maldade plantada no solo árido...
Ah, vi o Icó da discriminação racial, rejeitando as pessoas pelo berço, discriminando-as, não as julgando capaz, cheios de orgulho, que parecia perpetuar-se pelos séculos de ideologia plantada nos meninos e nas meninas das classes mais favorecidas.
Ah, vi o Icó das Nossas Senhoras brancas e gordas: Expectações, rosários, conceições, matronas-mães de um Jesus de elite, coroadas pelas meninas ricas com coroas de ouro ou de papelão... O Icó do Senhor do Bonfim, vilipendiado, em seu sofrimento, do Cristo padecente na cruz, do pobre sofrido, pela ideologia da dominação e da arrogância dos poderosos.
No meio do sonho, vi também os rostos dos inimigos, aqueles à espreita do poder pelo poder, com seus pensamentos maus, desejando a minha morte e o meu insucesso. Vi calúnias, difamações.... vi o quanto também os caluniei e os difamei... Isso não era sonho, isso era pesadelo.
E, enfim no fim do sonho, cheguei à prefeitura, o velho sobrado onde nasceu Janoca Dias e Antonio Pinto, o velo Babaquara, que mandou e desmandou no Ceará nos séculos passados... Ah era pesadelo demais... Ali estavam um a um enfileirados meus antecessores, todos olhando para mim, naquele olhar do lado de lá... com o dedo em riste: Cumpra o que prometeu. Não minta, seja verdadeiro, ajude os pobres, negocie com os opositores sem desonestidade, não se aproprie do dinheiro público, ele é do povo, particularmente dos mais pobres, não pratique nepotismo por nepotismo, tenha piedade das pessoas, pos pobres e dos ricos, não persiga as pessoas, não demita os funcionários públicos injustamente e ilegalmente, seja generoso.
Acordei, angustiado. Graça a Deus era só um sonho. Icó não pode ser isso, não poderia ser isso. Minha terra querida e amada não pode ter políticos assim.
(Postado por Opinion - Washington Luiz Peixoto Vieira).
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