O poeta Mário Cezar, num feliz poema, já utilizado em um artigo publicado neste blog assim dizia: "Meus olhos queriam cutucar os confins do mundo, não tinha cabimento continuar esfolando os pés no beco do urso, o coração desbotado pedia um rosário de esperanças para banir aquela infâmia, nos ricos sobrados da rua central, meu aboio era esfaqueado a olho nu".
²Neste poema, nosso conterrâneo olhava além dos horizontes da cidade. Via que ali somente uma elite estava predestinada a mandar e a desmandar, a usufruir as benesses do poder e do Status, seja familiar ou político. Aos demais, o povo miúdo, restava mesmo era esfolar “os pés no beco do urso”, numa metáfora muito bem construída, acerca dos trabalhadores e trabalhadoras daquela urbe.
De fato a miopia do bairrismo, adicionada a supremacia dos interesses particulares sobre o público, numa inversão de princípios legais, possivelmente é a origem de todos os males que povoam a administração pública do Icó, como de muitas cidades, sejam pequenas ou grandes, mundo ou Brasil afora.
Esse mesmo bairrismo, adubada com a miopia e a ignorância são os promotores do atraso ou da estagnação: Pura burrice!Mas, como estamos cá, nesse Brasil, especificamente tentando entender o atraso político, econômico e social de nosso Icó, é nele e sobre ele que vou refletir, inclusive na condição de “exilado”, (que somente sei das notícias pela internet), uma vez que diante das condições ora citadas, tive que migrar para outras plagas e me aclimatar em ”terras estranhas” e não somente eu, mas uma infinidade de centenas de conterrâneos que só Deus sabe por onde andam, vivem ou morrem.
Cidade de passado histórico relevante, quase beirando a glória, cantada e decantada com seus viscondes e barões, cuja arquitetura colonial, com seus casarios, sobrados, igrejas e teatro, mesmo os cacos do que sobrou, em parte restaurada, ainda é capaz de testemunhar. De presente medíocre, com nenhum investimento público e privado significativo.
De futuro incerto: Não achou mais a sua vocação, desde que perdeu as rédeas da hegemonia do sertão centro-sul do Ceará, aos finais do século XIX, e a perceu exatamente pela falta de "tino" daqueles que a governaram naqueles idos tempos.
A brigalhada entre os grupos antagônicos, de efêmeros partidos políticos de ocasião, num simples artifício legal de manter candidaturas, mais prejudicam o município, que fortalecem a democracia. Não há interesse público.
O que há são interesses particulares, sejam na ordem da manutenção do Status Quo, ou em criar paliativos econômicos, para si e para os seus, uma vez que as funções públicas eletivas são temporárias, a situação da decadente elite, que se reveza no poder, negando e renegando as ideologias, de cada tempo - ora de esquerda, ora de direita, ora de centro - que se insere com perfeição, de forma camaleônica e fisiológica, nem sabendo as teorias de cada tendência ideológica, mas num simples "Maria-vai-com as-outras" interesseiro.
Não há uma reflexão séria sobre os rumos econômicos do município, com metas, diretrizes, formação de consórcios regionais, integração com outros municípios, uns complementando ou outros em suas limitações e fraquezas: Icó é somente Icó. Parece estar fora do mundo, fora do contexto nacional e mesmo internacional.
Inerte, sempre à espera dos recursos dos fundos federais e estaduais e dos programas de "redistribuição de renda" (bolsa família, escola, etc)..As questões políticas resumem-se ao apoio deste ou daquele ator. É uma discussão oca, sem princípios, sem ética. É o poder pelo poder.
Se assim é verdade, amigos leitores restam aos icoenses um único caminho: continuarem esfolando os pés no beco do urso e a nós, os “apatriados” continuarmos vendo, à distância, os mandos e os desmandos de uma população – povo e poder – alienados, cujo único ponto concorde e tábua de esperança em dias melhores é louvar ao Senhor do Bonfim a cada fim de ano, vendo para onde a fumaça se dissipa,¹ não partindo, nem participando dos projetos comunitários para ações concretas, efetivas de sua libertação, ou poderemos viver cantando, como mesmo diz o poeta:
"Icó, tua história foi esfaqueada, a croa dos olhos mareja, lagoa de lágrima para a usura de poucos. Oh! duim vamos engolir uma pinga com piaba e cantar nossas perebas, tão antigas".
1. É tradição na festa do Bonfim, após a explosão dos fogos, olhar se a fumaça dos ditos fogos segue este ou aquele caminha, o que pode significar, ou não, um bom inverno.
2. O beco do urso era uma velha rua estreita, hoje inexistente, sempre imundo e urinado, por onde geralmente passavam as pessoas mais simples e humildes, uma vez que os ricos por ali se abstinham de passar.
(Postado por Opinion - Washington Luiz Peixoto Vieira).
²Neste poema, nosso conterrâneo olhava além dos horizontes da cidade. Via que ali somente uma elite estava predestinada a mandar e a desmandar, a usufruir as benesses do poder e do Status, seja familiar ou político. Aos demais, o povo miúdo, restava mesmo era esfolar “os pés no beco do urso”, numa metáfora muito bem construída, acerca dos trabalhadores e trabalhadoras daquela urbe.
De fato a miopia do bairrismo, adicionada a supremacia dos interesses particulares sobre o público, numa inversão de princípios legais, possivelmente é a origem de todos os males que povoam a administração pública do Icó, como de muitas cidades, sejam pequenas ou grandes, mundo ou Brasil afora.
Esse mesmo bairrismo, adubada com a miopia e a ignorância são os promotores do atraso ou da estagnação: Pura burrice!Mas, como estamos cá, nesse Brasil, especificamente tentando entender o atraso político, econômico e social de nosso Icó, é nele e sobre ele que vou refletir, inclusive na condição de “exilado”, (que somente sei das notícias pela internet), uma vez que diante das condições ora citadas, tive que migrar para outras plagas e me aclimatar em ”terras estranhas” e não somente eu, mas uma infinidade de centenas de conterrâneos que só Deus sabe por onde andam, vivem ou morrem.
Cidade de passado histórico relevante, quase beirando a glória, cantada e decantada com seus viscondes e barões, cuja arquitetura colonial, com seus casarios, sobrados, igrejas e teatro, mesmo os cacos do que sobrou, em parte restaurada, ainda é capaz de testemunhar. De presente medíocre, com nenhum investimento público e privado significativo.
De futuro incerto: Não achou mais a sua vocação, desde que perdeu as rédeas da hegemonia do sertão centro-sul do Ceará, aos finais do século XIX, e a perceu exatamente pela falta de "tino" daqueles que a governaram naqueles idos tempos.
A brigalhada entre os grupos antagônicos, de efêmeros partidos políticos de ocasião, num simples artifício legal de manter candidaturas, mais prejudicam o município, que fortalecem a democracia. Não há interesse público.
O que há são interesses particulares, sejam na ordem da manutenção do Status Quo, ou em criar paliativos econômicos, para si e para os seus, uma vez que as funções públicas eletivas são temporárias, a situação da decadente elite, que se reveza no poder, negando e renegando as ideologias, de cada tempo - ora de esquerda, ora de direita, ora de centro - que se insere com perfeição, de forma camaleônica e fisiológica, nem sabendo as teorias de cada tendência ideológica, mas num simples "Maria-vai-com as-outras" interesseiro.
Não há uma reflexão séria sobre os rumos econômicos do município, com metas, diretrizes, formação de consórcios regionais, integração com outros municípios, uns complementando ou outros em suas limitações e fraquezas: Icó é somente Icó. Parece estar fora do mundo, fora do contexto nacional e mesmo internacional.
Inerte, sempre à espera dos recursos dos fundos federais e estaduais e dos programas de "redistribuição de renda" (bolsa família, escola, etc)..As questões políticas resumem-se ao apoio deste ou daquele ator. É uma discussão oca, sem princípios, sem ética. É o poder pelo poder.
Se assim é verdade, amigos leitores restam aos icoenses um único caminho: continuarem esfolando os pés no beco do urso e a nós, os “apatriados” continuarmos vendo, à distância, os mandos e os desmandos de uma população – povo e poder – alienados, cujo único ponto concorde e tábua de esperança em dias melhores é louvar ao Senhor do Bonfim a cada fim de ano, vendo para onde a fumaça se dissipa,¹ não partindo, nem participando dos projetos comunitários para ações concretas, efetivas de sua libertação, ou poderemos viver cantando, como mesmo diz o poeta:
"Icó, tua história foi esfaqueada, a croa dos olhos mareja, lagoa de lágrima para a usura de poucos. Oh! duim vamos engolir uma pinga com piaba e cantar nossas perebas, tão antigas".
1. É tradição na festa do Bonfim, após a explosão dos fogos, olhar se a fumaça dos ditos fogos segue este ou aquele caminha, o que pode significar, ou não, um bom inverno.
2. O beco do urso era uma velha rua estreita, hoje inexistente, sempre imundo e urinado, por onde geralmente passavam as pessoas mais simples e humildes, uma vez que os ricos por ali se abstinham de passar.
(Postado por Opinion - Washington Luiz Peixoto Vieira).
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