segunda-feira, 31 de maio de 2021

PADRE ZÉ AUGUSTO – O FENÔMENO DA ESPONTANEIDADE



Por vinte e três anos o icoense, padre Zé Augusto – José Augusto do Nascimento nascido em Cruzeirinho em 1939 -, assumiu o vigariato do Icó, a partir de doze de março de mil novecentos e oitenta e três.

No distrito do seu nascedouro trabalhava de vaqueiro e agricultor, até se dirigir pra Bahia e de lá voltando padre para se incardinar na diocese de Iguatu, onde a paróquia do Icó é subordinada.

De personalidade irreverente, costumava, rotineiramente utilizar o momento da homilia para abordar os assuntos que viessem ao pensamento, tipo histórias da vida real dos seus co-paroquianos, gerando muitas vezes discórdias e posteriores discussões com os divergentes.

Uma das celebrações eucarísticas que tive a oportunidade de assistir a sua fala, tendo ao lado, o Ministro Extraordinário da Sagrada Eucaristia, no caso o seu pai, citou alguns casos de deslizes das pessoas da cidade, sem evidentemente citar os nomes, e reportou-se sobre à época em que o seu genitor foi vaqueiro dos irmãos Alcides e Sinfrônio Costa (meu tio e avô, respectivamente) e ele o ajudante, também faziam ocasionalmente coisas erradas em prejuízo ao patrão.

Em sua fala num casamento coletivo, pela manhã na igreja matriz, dirigiu-se aos noivos para dizer que casamento não era só sexo(usando um nome mais popular).

Ao terminar a celebração, uma senhora amiga dele foi à sacristia repreendê-lo pela expressão utilizada em público.

No mesmo dia ocorreu a bênção do novo cemitério e no decorrer da sua fala, disse que estava com vontade de dizer um palavrão, mas a mesma senhora que estava presente na ocasião, tinha pedido para que ele não falasse mais besteira e apontando pra ela, pediu para confirmar.

Estava o vigário Zé Augusto, como fazia habitualmente, tomando café da manhã na casa de uma família paroquiana amiga, e naquele dia era a sexta-feira santa e o cardápio muito a seu gosto, fartou-se de canjica, pamonha e outras guloseimas, quando foi abordado pela cozinheira:

- "Padre, o senhor não está fazendo jejum hoje?"

- "Eu tenho é que comer muito pois é o dia que padre mais trabalha", respondeu.
Certa vez na homilia falava sobre a sua vida de adolescente antes de ser padre, detalhando que tinha feito tudo que os outros rapazes da época faziam; namorou muito, e olhando na platéia uma senhora, dirigiu-se a ela pelo nome e fez uma perguntinha bem discreta:

- "Nós namoramos muito, não foi?"

Apesar da citação do estilo do reverendo irreverente Padre Zé Augusto, o seu lado folclórico, como popularmente significa o termo, colecionando fatos disparatados e mais ou menos curiosos e divertidos, sempre teve a simpatia da população icoense.

A decisão tomada pelo Bispo da diocese de Iguatu de então, Dom José Doth do rodízio nas paróquias da diocese, por cumprimento ao direito canônico, além de afastamento por pedido e por motivo de doença, o vigário resolve pedir afastamento do cargo, mas ficou residindo no Icó.

Pode-se comprovar a aceitação da comunidade desses critérios da sua espontaneidade, derivação ou variante, o Senhor Bispo da Diocese de Iguatu de então, por solicitação do Pároco que o sucedeu, o repreendeu por desviar-se dos preceitos da homilia, chegando a analisar e discernir sobre o seu impedimento em celebrar missa; ouviu a consternação majoritária das pessoas e decidiu liberar o Padre Emérito para as celebrações na igreja do Monte.

Ouvi e li, uma estória do advogado e contador de “causos”, Fabrício Moreira, que, ao ser indagado sobre o seu novo local de trabalho, há de convir que, pelo que já descrevemos sobre o Vigário, a resposta teria um grau de previsibilidade:

- "Aqui é ótimo. Fica defronte ao Terminal Rodoviário. Se quiserem me colocar pra fora do Icó, pego logo o ônibus. Ao lado do hospital regional, pois, se me açoitarem, me agredirem, durmo logo por lá. Ao lado do cemitério municipal. Se me matarem, o enterro será bem rápido".

(Por Gilson Moreira(foto) – escritor, historiador, genealogista e membro da Academia de Letras dos Municípios Cearenses - ALMECE).

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