quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PUBLIQUEI NO DIÁRIO DO NORDESTE DE 14 DE DEZEMBRO DE 2000. (MEMÓRIA).


O Muro de Berlim.

A estupidez dos homens e a crueldade dos que jamais perdoam seus contendores, sejam eles vencedores ou vencidos, acabaram criando o Muro de Berlim, uma vergonha que faz o mundo inteiro, até hoje, virar o nariz e se contorcer de dores no estômago diante dos fatos. 

O holocausto dividiu pais, filhos, maridos, avós, primos, amigos, irmãos. Não só os separou, mas dividiu de uma forma comprometedora com os próprios sentimentos humanos, que deveriam, independente de cor, credo religioso ou político, lutar por suas convicções, mas jamais matar por elas. 

Foi isso que fez a Alemanha escolher uns e outros irmãos, separando-os em castas distintas como se fossem homens e mulheres de primeira e segunda, jamais filhos da mesma pátria, da mesma terra, da mesma língua, dos mesmos encantos e culturas.

Só que, um dia, diante de tudo o que relato, para repensar o episódio e não cairmos na burrice de repeti-lo, os alemães entenderam que não eram alemães do oeste e do leste. Que não eram alemães e alemães, mas somente “alemães”, uma raça que orgulha a humanidade de tê-la irmã. 

Foi então que derrubaram o muro. Derrubaram o muro em todas as formas, inclusive moralmente. Derrubaram o muro que separava irmãos e até pensamentos, nunca os sentimentos de irmãos e filhos da pátria-mãe que deveria, como em todas as nações, envaidecer os filhos. E os alemães voltaram a lutar por objetivos comuns. 

A discutir os interesses dos antigos “lado de lá e lado de cá”, unindo as necessidades e as riquezas, os prazeres e os desejos, a fome e a opulência, os adeuses e as saudades e mais, mais que tudo, as verdades de cada um, como uma verdade única.

Aqui, no nosso Icó, a “Alemanha que jamais foi”, sempre foi diferente. O calor da disputa política, muitas vezes, separou famílias e amigos e irmãos, até. 

Mas depois da refrega, por mais acirrada que fosse, jamais se deixou de estar junto no mesmo bar, pra cachacinha santa de todo dia ou final de semana.

Maravilhosas e esquentadas pelejas políticas, levaram adversários às vias de fato, mas isso não durava uma semana depois da apuração dos votos. Vencedores e vencidos sempre chegavam e voltavam à nossa vidinha sob o sol escaldante que nos derrete os mais gelados sentimentos de aproximação. 

Hoje, triste cena, embalde choram os que como “eu”, pensavam que estávamos apenas em mais uma disputa, com ataques e defesas, escaramuças naturais - embora que às vezes até grosseiras - na defesa divina de suas convicções, parte a parte, pelo que se imaginava ser o melhor para nosso povo.

Os vencidos, enraivecidos ilógicos na natureza política, continuam de barraca (Comitê) armada, canhões apontados, armas à mão, incentivando intrigas e a discórdia, criando o mal-estar que se abateu sobre nossa irmandade, inaugurando a estupidez e a crueldade de um novo Muro de Berlim, desta vez, em Icó no Estado do Ceará.

Nós, os vencedores, continuamos acreditando como os antigos: a refrega passa, as críticas passam, e continua não só a vida, mas continua também a necessidade de se trabalhar por este Município que, com toda sua importância cultural e artística, política e humana, tanta falta sente de tanta coisa. 

Por isso mesmo, repelimos a atitude, principalmente lamentando por sabermos que continuamos irmãos. Na dor, na necessidade, na riqueza, na alegria do “Forricó”, na dureza do trabalho, no mesmo tronco que um dia nos trouxe junto com o Papagaio, símbolo da boa vontade e do humor do povo icoense.

Somos só isso e absolutamente nada mais; somos filhos de Icó e disso não abrimos mão. E por assim agirmos, entendemos que só os cruéis e de coração “enfezado” serão incapazes de entender que a vida, como dizia o poeta, “é a arte do encontro, embora hajam tantos desencontros pela vida”.

Fabrício Moreira da Costa

Vice-prefeito de Icó e advogado

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.