
As datas comemorativas são importantes e a
sociedade organizada festeja a partir dos fenômenos das relações sociais. Estas
são páginas trágicas ou gloriosas, referência de conquistas ou derrotas, encerram
regozijos ou lamentações. Mas, em minha modesta avaliação, são demarcações que
geram momentos reflexivos bastante úteis para a compreensão do que ocorre ao
nosso derredor.
São balizas, por assim dizer, que norteiam o
comportamento humano e aperfeiçoam as relações sociais entre os homens e entre
as nações.
A construção do indivíduo racional pela teoria
liberal pretendeu excluir a mulher da sociedade civil em formação. Em
contrapartida, deu início ao discurso feminista da diferença, inaugurando uma
história de resistências repleta de questões, tensões e desdobramentos.
A luta inicial das mulheres pela igualdade de
direitos nasce pela afirmação das diferenças, que acompanha toda a trajetória
do feminismo e fundamenta a ideia de identidade do sujeito feminino. O direito
de votar foi uma das primeiras reivindicações das mulheres que, embora
excluídas da esfera pública sob domínio masculino, buscavam participar desta
por meio do voto. Alegavam, principalmente, que na condição de mães e
educadoras daqueles que integravam as arenas decisórias teriam, portanto, o
direito de votar.
As polêmicas, aproximações e distanciamentos entre
os discursos dos feminismos emergentes evidenciaram a complexidade das relações
de poder, a diversidade das experiências femininas e a consciência da
centralidade do conceito de patriarcado nas lutas e pesquisas empreendidas no
âmbito do gênero.
Nos anos 1980, as mulheres reivindicaram uma
revalorização da experiência feminina ligada à maternidade e aspectos
biológicos característicos das mulheres, que enfatiza, novamente, a diferença
entre os sexos. Existe no mundo contemporâneo a demanda por uma noção de
cidadania mais abrangente, onde a diversidade cultural é um mote contínuo.
Há muitas mulheres que se destacaram e se destacam
na luta pela emancipação feminina. No entanto, o meu desejo por questão de
justiça, é dar voz e vez às mulheres
anônimas que nos dão suporte e nos ajudam a dar vida à luta por direitos
iguais entre homens e mulheres, sem as quais certamente não conseguiríamos dar
curso a essa batalha. E mesmo àquelas
que não ocupam trincheiras em nome desta causa, ainda assim merecem de nós toda
a solidariedade e um olhar diferenciado do primeiro universo.
Elas não são meras coadjuvantes neste filme
espetacular que é a vida quotidiana de todos nós. Elas são sim protagonistas,
estrelas maiores numa ribalta que reserva luzes a poucos em detrimento de
muitos atores sociais, que se revelam heroínas do seu tempo pelo exemplo de
coragem e superação em desafiar as regras iníquas.
Vista ainda por muitos, sobretudo por reacionários
inimigos da igualdade de gênero, a luta da mulher é tida como inglória, uma
liça contra moinhos de vento, investindo-se
contra inimigos fantasmas, ou ainda entendida como perda de tempo com fatos de pouca importância,
defendendo propósitos ou causas mirabolantes ou irrealizáveis. Combater como se
o combate fosse em nome de uma ilusão.
Imaginem o papel fundamental que mães desempenham no dia a dia das
famílias brasileiras e cearenses, em particular.
As que só cuidam dos problemas domésticos são vítimas do preconceito
machista de que “lugar de mulher é no
lar, cuidando de tarefas da cozinha e dos filhos. Somente e nada mais.”
Estas sofrem dupla opressão: a da condição de ser pobre e de ser mulher.
As que desempenham funções remuneradas cumprem jornada dupla de trabalho em um
só dia. As tarefas funcionais se dividem com as de dona de casa, em geral. Os
valores do machismo, em muitos casos, impedem o homem de desempenhar tarefas
domésticas.
Apesar
do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as
desigualdades, as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam
sendo significativas nos países latino-americanos. As mulheres
latino-americanas ganham menos, mesmo que possuam um maior nível de instrução.
Por meio de comparação simples dos salários médios, foi constatado que os
homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens
e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%.
Graças
a Deus, IBGE vem
demonstrando hoje que as mulheres vêm anhando espaço na realidade sócio-econômica
do país. Abro aspas para a pesquisa que diz:
Elas estudam mais, possuem formação em áreas que
auferem menores rendimentos; estão mais presentes no mercado de trabalho, mas
continuam ganhando menos e caminham mais lentamente rumo à formalização;
ganharam espaço entre os responsáveis pelas famílias e domicílios; e, mesmo
entre elas, há importantes diferenciais regionais e de cor ou raça, que
reforçam as desigualdades de gênero ainda enfrentadas pelas mulheres no Brasil.
E quando
falamos, no início deste pronunciamento em conclamação, nos referimos ao que estamos
propondo, nós mulheres. Não é nossa pretensão deflagrarmos uma guerra dos
sexos. Não, de forma nenhuma!
E eu vos digo, as
mulheres sozinhas não podem combater as marcas profundamente enraizadas em
nossa sociedade. Mas, juntos, homens e mulheres podem virar a maré da
desigualdade. E o mais importante, o fundamental: a luta para encerrar as
injustiças de gênero precisa ter uma limitação de tempo. Não pode ser uma luta
com fim indeterminado. Não podemos mergulhar num mar de incertezas, quando o
que reivindicamos é justo, é honesto e é coerente com o papel que a mulher há
desempenhado desde tempos imemoriais.
A história do movimento feminista registra, aí entra o quesito
comemorativo, momentos importantes na luta das mulheres em busca da
emancipação. Organizadas, as mulheres conquistaram direitos essenciais, como o
acesso à educação, a liberdade para escolher a própria profissão, o direito de
votar e de se candidatar. Esta semana comemoramos fato dos mais relevantes. Com a presença da ministra da Secretaria de
Política para Mulheres, Eleonora Menicucci, onde a Câmara dos Deputados
aprovou, na última terça-feira, o projeto que define feminicídio como
circunstância qualificadora de homicídio. A iniciativa é uma tentativa de
inibir a crescente violência contra a mulher. O Ceará é um dos Estados que mais
registraram, em 2014, casos de homicídios de mulheres.
Com o texto do projeto aprovado, o assassinato de mulher por condição de
sexo passa a entrar na lista de crimes hediondos. Hoje, estima-se que ocorram
mais de dez feminicídios por dia no País. O projeto vai para sanção presidente
Dilma Rousseff.
O projeto ainda prevê aumento de pena para casos de feminicídio(homicídio
de mulheres) em um terço até a metade se o crime for praticado durante a
gravidez ou nos três meses anteriores ao parto; contra menores de 14 anos,
maiores de 60 ou vítimas com deficiência; e na presença de pais ou filhos.
A condenação por crime hediondo também prevê o cumprimento da pena
inicialmente em regime fechado e a progressão do regime só poderá acontecer
após o cumprimento de dois quintos da pena, se o condenado for primário.
Hoje à mulher não cabe mais somente o papel de
esposa, mãe e dona de casa, como foi, infelizmente, durante um longo período de
nossa história.
Gostaria de ler uma frase da presidenta do
Chile, que bem define esse momento: “quando
uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando várias entram, muda a política”.
Mais mulheres na Política é, sem dúvida, a
grande batalha em curso e está relacionada à ocupação de espaços de poder. O
poder é um domínio ainda ocupado apenas por homens, campo no qual não há
representatividade feminina de fato, dada a exiguidade de posições efetivamente
ocupadas por mulheres. Em outras palavras, o poder sobre as decisões públicas,
que deveria ser neutro em relação a gênero, é marcadamente masculino, o que
resulta em pouca sensibilidade no mundo político diante de assuntos importantes
para a qualidade de vida das mulheres.
Hoje, nós mulheres, já temos muito o que
comemorar, mas há ainda muito mais por se fazer. Não durmamos nos loiros das vitórias
alcançadas. As tarefas e conquistas são ainda muito graves e demandam esforço,
capacidade política de arregimentação e negociação em favor de nossas causas. Aqui no Ceará buscamos, em primazia,
sensibilizar o governo do estado para a implementação do Artigo 185 da
Constituição Estadual que prevê a instalação de Delegacias da Mulher em cidades
com mais de 60 mil habitantes.
Conto com a sensibilidade do governador Camilo
Santana, sempre disposto ao diálogo como há demonstrado em seus mais de dois meses
de governo. E puxando um pouco a brasa para a minha sardinha, reivindico em
primeiro plano, a instalação deste tipo de delegacia na
altaneira cidade do Icó, sede regional do Vale do Salgado. Nossas mulheres
guerreiras, vítimas do preconceito e da violência, penhoradamente agradeceriam
ao governador.
Por fim, estamos propondo ainda a instalação,
neste parlamento, de uma comissão Especial de Mulheres para o acompanhamento
das propostas de Reforma Política. Uma comissão que tenha um olhar feminino
sobre as mudanças a serem, via Parlamento, intensificadas em nosso país.
Vivas as mulheres em seu dia e que se
aprofundem as conquistas de gênero para termos um País mais igual e mais justo.
Deputada Laís
Nunes (PROS\CE).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.