FOTO: ARTHUR LUIZ. |
“Eu daria tudo que eu
tivesse
Pra voltar aos dias de
criança
Eu não sei pra quê que a
gente cresce
Se não sai da gente essa
lembrança”.
Quando o mestre da música popular brasileira, Ataulfo Alves, compôs letra e
música de “Meus Tempos de Criança”, obra que entrou para a
galeria da eternidade, a intenção foi homenagear a pequena Miraí, cidade que
lhe viu nascer. Todavia, talvez não levasse em conta, que estivesse falando das
lembranças que toda criança carrega da infância alegre e feliz, vivida em seu
torrão natal, onde a cidade da gente se transforma na pátria da gente.
Este é um hino que,
quando ouvido com o coração, deixa a mente liberar as imagens que nos fizeram
apaixonar definitivamente por este torrão.
“Aos domingos missa na
matriz....Que saudade da professorinha, que me ensinou o be-a-bá...”; e
por aí vai o cancioneiro popular ferindo na carne as lembranças de um tempo que
não volta mais.
Este preâmbulo nos faz
lembrar nossa pequenina Icó. Princesa do nosso coração, onde jogamos bola com
os pês descalços na amplidão da Várzea do Colégio e nas sombras seculares dos
Tamarindeiros. Tomamos banho na fria água que escorria das bocas de jacaré da
Igreja Matriz, quando a chuva vinha derramar sua alegria no famoso Largo
do Théberge, testemunho vivo da história que fez esta cidade sair do ventre
materno da Ribeira do Salgado, onde os índios Icós descansavam no areal imenso
e dormiam sob a proteção generosa de Oiticicas, Juazeiros e Tamarindeiros.
Um tempo depois, a
vaqueirama em expedições rotineiras, tangia vacas e bois, que atravessavam as
plagas do Maranhão e Piauí, concretizando o chamado Caminho das Boiadas. No
Icó, cruzavam o Rio Salgado em Zé Barreto e desfilavam pela planície do Largo
do Théberge, para o estabelecimento do maior comércio a céu aberto do nordeste
brasileiro que o botânico e pesquisador Freire Alemão, um dia, chamou de “maior
empório comercial do sertão”.
Os ciclos do charque e
do couro trouxeram riquezas e prosperidade, igualmente, marinheiros de
Portugal, da Espanha e da França. Construíram os casarões, os sobrados em
estilo barroco autêntico, inclusive, o Teatro da Ribeira dos Icós e com ele a
arte clássica representada por um piano de calda colocado como principal
mobiliário das salas da aristocracia exposta pela riqueza que se expandia pelos
rincões do Icó.
Também vieram a
importância geográfica, e, política, consagradas pela pungente economia que
nascia generosamente pelas veias abertas da mãe natureza e pela capacidade
empreendedora dos Icoenses de então. Mas a vida corre como fio de água pelos
dedos das mãos. E sentimos saudade dos tempos bons que se foram.
Dos 500 anos do Brasil,
mais de 300 foram vividos por esta nossa terra dos Icós e por nossa gente, 277
documentados, lacuna não suprida até hoje por um legislativo inoperante para a
proteção da história. De lá para cá, tanta coisa mudou.
O município, que nas
regras atuais aniversaria em 25 de outubro, e completa 172
anos em 2014, já viveu grandes datas.
Toureiro e boi foram
trazidos da Espanha para a reprodução da famosa “Tourada de Madri”, bandas
marciais desfilaram por suas ruas bem traçadas chamando a população para os
eventos de um mês inteiro de comemorações, a SEMIC (Semana do Município), à
época, se estabeleceu trazendo atrações nacionais de bom nível e revelando
talentos locais na arte, na literatura e na comida tipicamente sertaneja. As
festas estrondaram fazendo tremer o famoso largo com forró e bebedeira em
noites incansáveis.
Tudo se foi...
Agora a cidade comemora
uma data incerta, em um dia incerto e com programação inexistente. Aniversário
pífio para uma cidade grandiosa que guarda nos paredões da história a memória
de um passado rico e glamoroso, hoje decaído por dias de incertezas tantas.
No final da tarde, com o
sol batendo melancolicamente na torre da Igreja da Matriz de Nossa Senhora da
Expectação, resta lembrar o trecho da eterna melodia composta por Antônio
Almeida e Braguinha: “A saudade mata a gente, morena. A saudade é dor
pungente, morena.”
(*Por
Fabrício Moreira da Costa, advogado e contista,
nascido em 05 de novembro de 1969, no Hospital e Maternidade Nossa Senhora de
Lourdes, na Ribeira do Salgado dos Icós).
EXPEDIENTE:
DIA 25 DE OUTUBRO DE 2014 - DATA QUE SE COMEMORA
172 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DE ICÓ - ESTADO DO
CEARÁ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.