Os caminhos que nos fazem caminhar

Os caminhos do cariri que nos levavam apenas ao Juazeiro do Padre Cícero Romão Batista, em um final de semana qualquer, conduziram este contador de histórias do cotidiano simples do povo da Ribeira do Salgado dos Icós, recentemente, à Nova Olinda, onde tem como parada obrigatória conhecer o atelier de Espedito Seleiro, mestre da cultura popular que se destaca no Brasil e no mundo por sua arte de produzir calçados, bolsas, chapéus, carteiras, bancos, poltronas, além das selas, gibões e outros elementos da cultura vaqueira que estão sempre presentes.

O artesanato é feito com couro de cabra, pelica e camurça compradas em diversas cidades do Nordeste. Suas peças são vendidas em outros estados e exportadas para outros países.

Pois bem; após as compras de um chinelo, uma carteira de bolso e um par de sandálias pra esposa, um dedo de prosa com o Mestre Espedito não é obrigação; mas pra quem admira arte, cultura e história, passa a ser um alimento rico para toda uma existência na vida terrena.

Carismático, simples e gentil, Seleiro nos conta como foi o duro início dos seus trabalhos - há décadas - de suas festejadas viagens ao exterior e de muitas surpresas quando aparecem sem qualquer agenda ou combinado em sua caderneta que a nora Irenilda Carvalho, esposa do também famoso artesão Maninho Seleiro, que anota tudo com zelo e bastante cuidado, de autoridades, artistas, TVs, jornalistas, produtores de cultura, não somente da região, mas de todos os quadrantes do mundo.

Após a boa conversa e de partida à Santana do Cariri, ganhei de presente sem qualquer custo, logicamente, dois chaveiros do Mestre Espedito que ainda cuidou de nos ensinar como chegar ao próximo destino:

- A “Vila Medieval” da família Pereira.

“Você encontrará como Gardião da Vila, o Senhor José Pereira. O homem é valente, mas é do bem e é meu amigo”, afirmou o Mestre.

A Vila Medieval foi uma ideia do professor universitário e odontólogo, Dr. José Pereira, que após visitar toda a Europa resolveu criar uma réplica de cada vultosa arquitetura europeia em uma comunidade no distrito de Araponga, em Santana do Cariri, bem como de jardins renascentistas, sendo um conjunto representativo de oito países como Suíça, Inglaterra, Alemanha, França, República Theca, Áustria, Rússia e Espanha.

O espaço é visitado por turistas de vários recantos do mundo e encanta também pelo clima ameno; os pássaros não exageram no volume dos seus cantos para não movimentar a calmaria envolvente, os verdes habituais em pleno semiárido nordestino confundem os visitantes, existem lendas locais e ricas histórias que absolvem o seu espírito rapidamente a cada visita no lugar.

Atualmente, chalés estão à disposição para o pernoite, finais de semana e encontram espaço para muitos que preferem uma boa música instrumental com volume ambiente, em detrimento as canções de plásticos que inundam as emissoras de rádios e programas de auditório.

Após conhecer esse paraíso encravado no cariri cearense, sentei-me à mesa com o Guardião da Vila Medieval, Seu José Pereira, como é conhecido no lugar.

Um homem experiente, conversador eloquente, um intelectual empolgado que não parou de estudar, de ler e que tem o prazer de contar suas histórias vivenciadas pelo mundo.

As histórias de José Pereira são cúmplices de sua vigorosa idade, ao ponto de instalar no torrão que o brotou das terras com poucas esperanças de um futuro promissor, à época, mas que o trouxe de volta décadas depois para instalar oito Países da Europa em seu próprio quintal. Aliás, José Pereira ocupa a primeira casa, em estilo inglês e muito bem preservada, que se destaca por sua enorme beleza.

UM CONVITE À NATUREZA REGADO A VINHO E BOA GASTRONOMIA

Chegou a hora de partir; o relógio inglês com toda sua pontualidade, marcava em seus ponteiros 13h30. Uma fotografia na Carruagem europeia também não poderia faltar. Fizemos. O convite para o almoço também se tornou irresistível.

A farta mesa nos foi servida uma parrilla argentina feita com chorizo de terrera, acompanhada de fatias de berinjela, abobrinha e batatas sauté.

Finalmente, conheci quase toda a Europa, sem sequer sair do Brasil.

Vida longa, professor-doutor José Pereira!

(Por Fabrício Moreira da Costa, advogado e contista).