
O raizeiro, rezador e poeta popular, Otacílio Holanda, de Icó,  mantém viva a prática e tradição da fitoterapia na  região.
As plantas curam. Os indígenas e  antigos deixaram para nós um legado de conhecimento popular sobre as  propriedades medicinais de ervas, raízes, folhas e caules. Apesar dos avanços da  indústria farmacêutica e da modernização dos costumes, o uso da fitoterapia  ainda resiste e é praticado em algumas cidades do sertão cearense. Um exemplo é  o raizeiro, rezador e poeta popular, Otacílio Holanda, 88 anos, que todas as  semanas faz atendimento e venda de seus produtos no mercado central nesta  cidade.
O doutor-raiz, Otacílio Holanda, depois de alguns anos morando  nesta cidade, resolveu fazer o caminho de volta para a zona rural e encontrar  tranquilidade, em uma casa no campo, ao lado de uma farmácia viva que mantém no  sítio Alto da Várzea, distante 30km do Centro. Os dias de atendimento foram  reduzidos de seis para dois por semana. "Estou precisando de mais sossego",  disse. "A idade já pesa um pouco".
Foi no campo, ao lado do pai, o  profeta popular, Sebastião Norberto, no Sítio Caranguejo, zona rural de  Jaguaribe, que Otacílio Holanda, ainda criança, despertou para a cura de animais  e de plantas. Lembra que aos sete anos, fazia um caminhão de talo de milho, e na  carroceria do brinquedo, carregava ervas e misturas que colocava nas  catingueiras. "Fica verde e folheava mais rápido", conta. "É um dom que a gente  nasce com ele e vem de Deus".
As brincadeiras dos tempos de criança e  adolescente, corre-corre, cavalo de pau, logo ficaram para trás, mas praticadas  por outros meninos no sítio. "Meu pai era profeta popular, adivinhava se o  inverno seria bom ou não, observando o tempo, a lua e planetas, a cada dia 22  dos últimos meses do ano", recordou. "Eu aprendi muitas coisas com ele, a  observação e o respeito à natureza".
Deixando a medicina popular de lado,  o raizeiro adverte: "Vênus trouxe carga negativa e o inverno começaria bom, mas  iria fraquejar". Otacílio Holanda foi vaqueiro durante vários anos, tangendo e  reunindo a boiada no sertão de Jaguaribe. Preferia a lida com o gado. "Plantei  pouco, uma rocinha de milho e feijão só para comer verde".
Na atividade  de vaqueiro desenvolveu o dom de cura dos animais, usando ervas e rezas. Depois,  começou a atender gente. "Crianças com vento caído, diarreia, febre, quebranto,  mulher com resguardo quebrado, infecção na urina e até impotência nos homens eu  tratei com o uso de plantas", contou.
Otacílio Holanda cansou da vida de  vaqueiro e procurou ampliar os conhecimentos sobre as propriedades medicinais  das plantas por meio de leituras de revistas e livros especializados. Aprendeu  fazer algumas receitas de lambedor e garrafadas e afirma que já tratou e curou  muita gente "com inflamação e doenças graves".
Passou a morar em Icó onde  formou clientela e montou uma banca de venda das ervas, raízes e produtos  naturais, muitos oriundos do Cariri. "Comecei no mercado velho, mas de lá fui  tirado por três vezes e agora me emprestaram esse espaço aqui (mercado de frutas  e verduras)", contou.
Os vendedores do mercado admiram a resistência e a  insistência do rezador, que mesmo aposentado e com idade avançada não pensa em  parar. Alguns contam que ficaram curados com o uso de plantas. "Eu tinha uma  ferida na perna e fiquei boa com uma mistura que ele preparou", contou a dona de  casa, Maria Rodrigues. Maria de Fátima Ferreira, doméstica, disse: "fiquei boa  de uma coceira entre os dedos dos  pés".
(Por Honório  Barbosa - Repórter).
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