O último dos padres “antigos” pode-se afirmar que foi o Padre José Alves de Macêdo. Era chamado de Padre Macedo. As pessoas ainda lhe tomavam “a benção”. Percorria os vastos territórios dos sertões do Icó a cavalo, andava de bicicleta vestindo sua batina ou clegiman surrado e sempre de chapéu preto. Era um homem pobre, todavia aristocrático. Vocacionado ao sacerdócio católico no modelo antigo. Diziam padecer de claustrofobia. Suas homilias, um tanto ríspidas, eram curtas e mesmo inexistentes nas missas dominicais. Eram estritamente centradas nos textos litúrgicos daquele dia, eximindo-se da estender-se a assuntos políticos e sociais, restringindo-se no âmbito da moral-sexual, quando muito. Homem de cultura, afirmavam que ele dominava várias línguas, razões pelas quais sempre era solicitado a acompanhar alguns ricaços em viagens internacionais à Europa. Era pragmático e pouco afeito a manifestações da religiosidade popular - que ficava à mercê dos leigos. Sua ação religiosa era do tipo “sacramentalista” e “ritualista” bastando às expressões oficiais para a prática da religião, de forma que acompanhava as procissões – mesmo a do Senhor do Bonfim como mero expectador do balcão do “Sobrado do Marrocos”, Casa Paroquial. Dentre os "causos" sobre sua personalidade conta-se que certa feita estavam reunidas algumas senhoras, Zeladoras do Apostolado da Oração, por volta de quase meio dia, quando ele irritado teria mandado as piedosas senhoras cuidarem do almoço de seus maridos e filhos... Ou quando chamado a “encomendar” um certo defunto- que já estava na Igreja - o procuraram por várias partes da cidade, não o achando em canto nenhum, por fim o descobriram tirando goteiras no alto telhado da matriz e teria dito “que se a alma do morto tivesse ido para o inferno de lá ele não poderia tirar”. Com certeza essas histórias foram inventadas pelo povão, com a mente povoada de mitos e Superstições. insatisfeito diante de sua rusticidade e impaciência, que lhe eram típicas, que pouco compreendia a sua intelectualidade e que ele pouco se esforçava em fazer-se entender. Durante sua longa administração à frente da Paróquia da Expectação, que vai de 1964 a 1983 não se tem notícias de avanços pastorais, não obstante ser ele o agente de implantação do Concílio do Vaticano II em nível paroquial, bem como a criação da Diocese de Iguatu (1962), deixando assim Icó de pertencer à Diocese de Limoeiro do Norte. Foi durante o seu tempo que foram embora as Filhas de Santa Tezeza, proprietárias do Colégio Senhor do Bonfim, bem como chegaram a Icó as Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo que revolucionaram a juventude icoense dos anos de 1980 e começaram a nascer os grupos Focolarinos e Encontros de Casais com Cristo, sementes da atual RCC e nascentes das Comunidades Eclesias de Base nas zonas rurais, todavia intependentes de um plano pastoral paroquial - propriamente dito - e sim Diocesano, sem a presença do pároco. Ainda durante a sua gestão paroquial a Igreja do Brasil abria-se às reformas da Igreja na América Latina, através das Conferências Episcopais de Medelin (1968) e Puebla (1977), todavia o velho Monsenhor não estava apto a adotar novas posturas pastorais, de forma que o período pastoral que logo se seguiu foi certamente o de maior conflito entre leigos, igreja e poder político local. Padre Macedo, nasceu na cidade de Mauriti/Ceará. Depois de aposentado passou a residir em Messejana, na região da Grande Fortaleza, no início dos anos de 1980. Nesse mesmo período foi vítima de acidente doméstico, vindo a falecer. Por especial concessão do Bispo Diocesano foi sepultado no interior da Matriz de Nossa Senhora da Expectação, na antiga Capela de São Miguel, conforme havia pedido em testamento. Icó homenageou a sua memória dando nome a uma escola da rede pública municipal: Escola de Ensino Fundamental e Médio Padre José Alves de Macedo (CERE), mas conhecido por "Cirão", inaugurada 12 de agosto de 1994 e com nome de Rua. (TEXTO ESCRITO POR WASCHINGTON PEIXOTO).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.