As eleições de domingo em Martinópole, Missão Velha e Pedra Branca não são o que se poderia chamar de um acontecimento capaz de desestabilizar a geopolítica no Ceará. São municípios, respectivamente, no Norte do Estado, no Cariri, ao sul, e no Sertão Central. Têm significa relevância em suas regiões.
O maior deles é Pedra Branca, com 43 mil habitantes, seguido não de longe por Missão Velha, com 35 mil. Já Martinópole tem 11 mil. Sem demérito de nenhum deles, fosse uma eleição regular, ocorrendo também nos outros 181 municípios do Ceará, dificilmente eu estaria falando deles aqui. Não por irrelevância deles, mas pela concorrência e as atenções divididas.
Ocorre que os eleitos em 2020 foram cassados e as eleições ocorreram domingo de forma suplementar. E as votações cresceram em relevância e repercussão. Chamaram atenção de líderes políticos estaduais e nacionais. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gravou para a petista Fitinha. Mas, ela acabou ainda assim derrotada por Dr. Lorim (PDT), que teve o pedetista Ciro Gomes como cabo eleitoral.
No Telegram, Flávio Bolsonaro, do Patriota, comentou o resultado dizendo que “Lula já era”. Obviamente, políticos estaduais entraram forte e concentraram suas atenções ali.
Chama atenção o desempenho dos aliados de Domingos Filho (PSD). A família Aguiar já havia saído das urnas em 2020 como segunda maior força em prefeituras no Ceará. A primeira são os Ferreira Gomes. O grupo dos dois Domingos, o Filho e o Neto, e de Patrícia Aguiar obteve vitórias em Missão Velha e Pedra Branca.
O PSD tem 29 prefeitos, mas também aliados fora. Só não está mais forte porque a legenda perdeu Caucaia no ano passado.
Domingos já foi importante aliado de Eunício Oliveira (MDB) e virou presidente da Assembleia Legislativa no primeiro mandato de Cid Gomes (PDT) como governador. Os dois se entenderam tão bem que ele foi escolha pessoal de Cid para virar seu vice no segundo mandato. Em 2014, ficou contrariado quando Cid se recusou a transferir o governo para ele numa eventual desincompatibilização.
Em 2016, veio o rompimento. Em 2018, voltou ao governismo. É hoje quem melhor transita entre a base aliada estadual e federal, que são antagônicas. O grupo está de olho na vaga de vice-governador em 2022.
Em Martinópole, o vencedor foi do PP, partido controlado por outra poderosa família, os Albuquerque, que também transitam entre o governismo local e estadual, com mais tribulações aparentes.
Domingos Filho não esconde de ninguém o sonho de ser governador um dia. Zezinho Albuquerque também não. Para o ano que vem está difícil para ambos, então, vão ocupando espaços.
(Érico Firmo, do Jornal O Povo)
O POVO 03\08\2021
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