Nas últimas quatro décadas ouvi, li e assisti por milhares de vezes nas TVs, jornais impressos e rádios que a redenção do povo nordestino seria a transposição das águas do Rio São Francisco ao semiárido nordestino.
Milhões em investimentos, estudos, disputas por reconhecimento da paternidade da autoria do projeto e das ações, enfim, acompanhamos também o gostoso banho do ex-presidente Lula nas águas dos rincões paraibanos e o passeio de Bolsonaro com o mesmo fito trajado de verde oliva em aparições aos nossos sertanejos.
Fotografias, frases fortes de efeitos e discursos às massas; não faltaram debates do Iapoque ao Chuí com essa temática que era somente do povo nordestino, da peleja local, com o cenário em filme de horror dos carros-pipas como se fosse coisa de um passado que tinha se perdido de vista.
Ledo engano!
O Rio Salgado, pasmem, continua correndo com suas poucas águas no rumo do Castanhão, por debaixo de várias pontes e, diga-se, quando elas passam.
O carro-pipa ainda é visto em total e regular utilidade e não virou retrato de parede, como esperávamos e foi amplamente anunciado por nossa classe política.
A imprensa nacional esqueceu o tema, prefere tão-somente o obtuário cotidiano do Covid aos que morrem de fome e sede no nordeste há séculos.
Lula e Bolsonaro não vieram mais por aqui disputar o amor do Velho Chico, como dois senhores apaixonados.
Enquanto isso, o ronco do carro-pipa ainda acorda e ao mesmo tempo acude milhões de nordestinos diariamente com água, até que um dia, a transposição seja de forma definitiva resolvida de verdade.
(Por Fabrício Moreira da Costa, advogado e contista).
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